Adesão ao tratamento e seu impacto sobre a recuperação
Você sabia que a adesão ao tratamento indicado pelo seu médico é fundamental no controle de qualquer doença? A não adesão ao tratamento pode provocar diversas consequências e muitos pacientes não entendem os riscos envolvidos.
O que significa adesão ao tratamento?
Quando uma pessoa adere ao tratamento prescrito pelo médico, significa que ela utiliza pelo menos 80% das medicações prescritas, respeitando o horário, as doses e o tempo de tratamento indicado pelo especialista.1
No caso de pacientes com doenças crônicas, como o diabetes, a adesão ao tratamento deve ser mantida por tempo indeterminado. A não adesão ao tratamento é a principal causa de complicações com consequente piora da qualidade de vida e aumento dos índices de morbidade e mortalidade.2
Abandono de tratamento tem preocupado especialistas
Da mesma forma que muitas pessoas começam a tomar medicamentos por conta própria, há muitos pacientes que simplesmente abandonam seu tratamento e não aderem à terapêutica proposta.3 Esse cenário, em que uma grande parcela de pessoas com doenças crônicas abandonam o tratamento medicamentoso, recebe o nome de “epidemia invisível” e é considerado um importante problema de saúde pública.1
Segundo estudo realizado pelo Datafolha, em 2019, 20% dos pacientes brasileiros entrevistados afirmaram já terem aumentado ou diminuído por conta própria a dose de medicamentos prescritos por acreditarem que não está sendo eficaz. Outros 37% referem diminuir a dosagem por achar que o medicamento lhes faz mal e que a doença já está controlada – atitude mais comum entre o público masculino.3
De acordo com um estudo publicado na Revista de Saúde Pública, fatores como escolaridade e condição socioeconômica interferem na adesão ao tratamento, sendo necessária maior orientação por parte da equipe médica.4
Normalmente, as pessoas que deixam de seguir o tratamento indicado pelos médicos relatam motivos como:5,6
- Efeitos colaterais;
- Alto custo do medicamento;
- Dificuldade em conseguir o remédio pelo Sistema Único de Saúde (SUS);
- Esquecimento; Preferência por tratamentos naturais.
É claro que nenhuma dessas razões justifica a não adesão ao tratamento, considerando que abandonar o uso de medicamentos pode ser muito perigoso para o paciente, levando a uma maior ocorrência de efeitos adversos e falha terapêutica.1
Dados de uma pesquisa feita no Sul do Brasil mostram que o índice de não adesão ao tratamento supera os 60% dentre as pessoas a partir de 40 anos que possuem doenças crônicas, como o diabetes.7
Quais são os riscos de interromper o tratamento por conta própria?
As pessoas que decidem parar de seguir um tratamento, por qualquer motivo, podem sofrer diversas consequências para a sua saúde, incluindo:
1. Retorno dos sintomas
A não adesão ao tratamento medicamentoso proposto pela equipe médica pode diminuir o controle da doença e causar o retorno dos sintomas, que deveriam diminuir com o uso do medicamento.8
2. Complicações do seu quadro
A não adesão ao tratamento pode agravar o problema de saúde e, dependendo da doença, a falta de tratamento pode aumentar a necessidade de hospitalização e o risco de mortalidade.9 Por exemplo, pacientes que não aderem adequadamente ao tratamento medicamentoso após um episódio de infarto têm uma probabilidade três vezes maior de evoluir à óbito no primeiro ano após o evento.10
3. Abstinência
Apesar de muitas pessoas usarem os efeitos colaterais como forma de justificar o abandono do tratamento médico3, elas não sabem que podem sofrer muito com a sua abstinência. Isso porque existem certas substâncias – especialmente as psicotrópicas – que, quando deixam de ser tomadas de forma abrupta, podem causar dificuldade para dormir, irritabilidade, taquicardia, crises convulsivas, dentre outras alterações diversas.11 Assim, a suspensão (ou desprescrição) de um medicamento deve sempre ser guiada pelo médico.
4. Fragilidade emocional
A não adesão ao tratamento pode ser consequência de questões emocionais, pois alguns pacientes têm dificuldades em lidar com o próprio diagnóstico e optam por não aderir como forma de “protesto”. Porém, a não adesão ou abandono do tratamento pode piorar o quadro clínico, de tal forma que, ao perceberem que estão de novo doentes e até piores, os pacientes tendem a ficar ainda mais desanimados.12
5. Resistência a medicamentos
Outra consequência grave de abandonar um tratamento médico é a resistência que o organismo pode desenvolver àquele medicamento, principalmente no caso de doenças como infecções bacterianas. É comum que pessoas que interrompem frequentemente o uso de uma determinada substância passem a não sentir mais seus benefícios.13
Alternativas ao abandono do tratamento
Muitas vezes, é difícil lidar com os problemas de saúde ou com os tratamentos prescritos, seja pelos efeitos colaterais desagradáveis, seja pelo custo, seja pelo esquecimento.
Entretanto, é sempre importante conversar com seu médico, explicando quais são os incômodos que o medicamento está causando para que o profissional possa ajudar da melhor maneira.
Em alguns casos, o médico pode ajustar a dose, por exemplo, ou iniciar com doses baixas e aumentar gradativamente, o que serve para reduzir eventuais desconfortos que o medicamento possa causar. Outras abordagens para tornar o regime terapêutico o mais simples possível também podem ser empregadas, como organizar os tratamentos para coincidir com os horários de tomada.13
Para lembrar
- A adesão ao tratamento é fundamental para melhorar uma condição de saúde e prevenir complicações.
- Ao interromper o tratamento por conta própria, o paciente fica exposto a uma série de riscos à saúde, como o retorno dos sintomas e complicações do seu quadro.
- Se você sentir dificuldades para aderir a uma terapia, procure seu médico, que poderá sugerir alternativas para ajudá-lo.
Se você tem diabetes, entenda as complicações da doença.
Referências:
Brasil. Ministério da Saúde. Secretaria de Ciência, Tecnologia e Insumos Estratégicos. Departamento de Ciência e Tecnologia. Síntese de evidências para políticas de saúde: adesão ao tratamento medicamentoso por pacientes portadores de doenças crônicas. Brasília: Ministério da Saúde, 2016. 52 p. Acesso em 24 de maio de 2024.
Lima Junior LC, Lima NNF. Relação da qualidade de vida e as doenças crônicas. Brazilian Journal of Health Review. 2021;4(5):21426–39.
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Tavares NUL, Bertoldi AD, Mengue SS, Arrais PSD, Luiza VL, Oliveira MA, et al. Fatores associados à baixa adesão ao tratamento farmacológico de doenças crônicas no Brasil. Rev Saude Publica. 2016;50(supl 2):10s.
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Remondi FA, Oda S, Cabrera MAS. Não adesão à terapia medicamentosa: da teoria à prática clínica. Rev Ciênc Farm Básica Apl. 2014;35(2):177-85.
Ferreira RR, Casellato JF, Azevedo RCS. Abordagem médica da adesão ao tratamento farmacológico de portadores de esquizofrenia e transtorno afetivo bipolar. Acesso em 24 de maio de 2024.
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Dalla MDB, Stein AT, Castro Filho ED, et al; Sociedade Brasileira de Medicina de Família e Comunidade, Sociedade Brasileira de Clínica Médica, Federação Brasileira das Associações de Ginecologia e Obstetrícia, Sociedade Brasileira de Hansenologia. Aderência a tratamento medicamentoso [internet]. 24 de julho de 2009. Acesso em 24 de maio de 2024.
Síndrome de descontinuação: como fazer o desmame correto dos ISRS? [internet]. Portal Afya, Dezembro de 2019. Acesso em 24 de maio de 2024.
Aderindo corretamente ao tratamento [internet]. Oncoguia. Agosto de 2015. Acesso em 24 de maio de 2024.
- Vitória MAA. Conceitos e recomendações básicas para melhorar a adesão ao tratamento anti-retroviral [internet]. Ministério da Saúde. Acesso em 24 de maio de 2024.
Este material é de natureza informativa e não substitui a avaliação médica individualizada.
PP-UN-CAR-BR-0173-1 MAIO 2024
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