Por: Dr. João Salles*
A obesidade é uma epidemia global que atinge mais de um bilhão de pessoas no mundo¹, incluindo cerca de seis milhões no Brasil². Os números, que já eram alarmantes, seguem crescendo e ameaçando a vida e a saúde de adultos, adolescentes e crianças por meio do desencadeamento de uma série de complicações, como a síndrome metabólica, o diabetes tipo 2 e a doença renal crônica (DRC).
O que poucas pessoas sabem é que tais doenças podem estar interligadas e, silenciosamente, representar um grande risco para o coração - especialmente quando olhamos para a chamada obesidade visceral, caracterizada pelo acúmulo de gordura na região abdominal. Ela é o pontapé inicial para a síndrome metabólica, um conjunto de alterações que vão desde a hipertensão arterial à resistência à insulina e que eleva significativamente o risco de desenvolvimento do diabetes tipo 2³.


Cerca de 90% dos casos de diabetes são do tipo 24. A doença atinge em torno de 589 milhões de adultos no mundo e mais de 16 milhões no Brasil5 e, apesar de ter as mudanças de estilo de vida, como os cuidados alimentares, a prática de exercícios físicos e o monitoramento constante da glicose, popularmente reconhecidas entre a população, dois órgãos requerem atenção especial, mas passam despercebidos durante o tratamento: os rins.
Você pode estar se perguntando por que falar sobre os rins quando o foco da conversa são as ameaças ao coração. Mas a verdade é que a saúde dos rins e do coração está intrinsecamente ligada. Seja pela obesidade, pela síndrome metabólica ou pelo diabetes, o comprometimento renal é uma questão silenciosa e chave nos acidentes cardiovasculares.
Estima-se que 1 em cada 10 pessoas no mundo venha a desenvolver doença renal crônica (DRC)6, sendo o diabetes tipo 2 a principal causa do problema7. De 20 a 40% dos pacientes diabéticos tipo 2 desenvolvem algum grau de comprometimento renal ao longo da vida7. A disfunção do órgão influencia o funcionamento do coração, o que chamamos de síndrome cardiorrenal.
Estudos apontam que pacientes com doença renal crônica têm um risco de 4 a 20 vezes maior de morte cardíaca súbita; enquanto o diabetes e a DRC aumentam o risco de eventos como infarto agudo do miocárdio, acidente vascular cerebral e insuficiência cardíaca8.

🩺 A identificação precoce dos fatores de risco, o acompanhamento da saúde metabólica e renal e o acesso a terapias eficazes podem interromper esse ciclo. Por isso, precisamos nos atentar a essa conexão multifatorial e agir pela saúde das pessoas, do sistema de saúde e de toda sociedade hoje.
* Médico endocrinologista com doutorado pela Universidade Federal de São Paulo. Professor adjunto e diretor do Departamento de Clínica Médica da Faculdade de Ciências Médicas da Santa Casa de São Paulo, diretor do Departamento de Medicina da Irmandade da Santa Casa de Misericórdia de São Paulo e coordenador da disciplina de Endocrinologia. Vice-presidente da Sociedade Brasileira de Diabetes (gestão 2024-2025) e presidente eleito para o biênio 2026-2027. Também atua como secretário-geral da Federação Latino-Americana de Obesidade (FLASO).
Referências:
1 - WHO – World Health Organization. Obesity and overweight. 2024. Disponível em: https://www.who.int/news-room/fact-sheets/detail/obesity-and-overweight. Acesso em: 14 maio 2025.
2. SBCBM – Sociedade Brasileira de Cirurgia Bariátrica e Metabólica. Obesidade atinge mais de 67 milhões de pessoas no Brasil em 2022. 2022. Disponível em: https://sbcbm.org.br/obesidade-atinge-mais-de-67-milhoes-de-pessoas-no-brasil-em-2022/. Acesso em: 14 maio 2025.
3. COSTA, J. P. da et al. Síndrome metabólica e risco cardiovascular em adolescentes. Revista de Nutrição, Campinas, v. 31, n. 1, p. 73–83, 2018. Disponível em: https://www.scielo.br/j/rn/a/ML9Qxf4DSBJPMLnn5pWT3Fd/?lang=pt. Acesso em: 14 maio 2025.
4. IDF – International Diabetes Federation. Type 2 diabetes. 2024. Disponível em: https://idf.org/about-diabetes/types-of-diabetes/type-2/. Acesso em: 14 maio 2025.
5. IDF – International Diabetes Federation. Diabetes Atlas. 2024. Disponível em: https://diabetesatlas.org/. Acesso em: 14 maio 2025.
6. EBSERH – Empresa Brasileira de Serviços Hospitalares. Uma em cada 10 pessoas desenvolve doença renal crônica no mundo. 2024. Disponível em: https://www.gov.br/ebserh/pt-br/hospitais-universitarios/regiao-sudeste/hucam-ufes/comunicacao/noticias/uma-em-cada-10-pessoas-desenvolve-doenca-renal-cronica-no-mundo. Acesso em: 14 maio 2025.
7. SBD – Sociedade Brasileira de Diabetes. Avaliação e tratamento da doença renal do diabetes. 2023. Disponível em: https://diretriz.diabetes.org.br/avaliacao-e-tratamento-da-doenca-renal-do-diabetes/. Acesso em: 14 maio 2025.
8. SBD – Sociedade Brasileira de Diabetes. Manejo do risco cardiovascular: dislipidemia. 2023. Disponível em: https://diretriz.diabetes.org.br/manejo-do-risco-cardiovascular-dislipidemia/#ref1. Acesso em: 14 maio 2025.
PP-M_FIN-BR-0030-1 | JUNHO 2025
Este material é de natureza informativa e não substitui a avaliação médica individualizada.
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